sábado, 8 de abril de 2017

Compreender as forças que se opõem à Unidade Mundial

Por David Langness.



Será que, um dia, todos nós viveremos num mundo mais unido e globalizado - ou viveremos sempre num mundo dividido em nações isoladas?

Essa é a questão central no debate cada vez mais amplo e mais tenso globalismo e nacionalismo.

A história mostra-nos que a humanidade tende, ao longo do tempo, a organizar-se em sistemas cada vez mais abrangentes e mais amplos. E os Bahá’ís acreditam que é por isso que o nacionalismo já teve o seu apogeu. "O fetiche da soberania nacional absoluta", escreveu a Casa Universal de Justiça, "está a caminho da extinção".
Com cada nova crise nos assuntos mundiais, torna-se mais fácil para os cidadãos distinguir entre o amor pátrio que enriquece a vida das pessoas e a submissão à retórica inflamatória destinada a provocar o ódio e o medo dos outros. Mesmo quando é recomendável participar nos ritos nacionalistas tradicionais, a reacção pública é frequentemente marcada tanto por sentimentos de constrangimento como pelas fortes convicções e fácil entusiasmo de outros tempos. Este efeito tem sido reforçado pela reestruturação firmemente em curso na ordem internacional. Independente das limitações do sistema das Nações Unidas na sua actual configuração, e por muito limitada que seja a sua capacidade para desencadear uma acção militar colectiva contra a agressão, ninguém pode deixar de reconhecer o facto de que o fetiche da soberania nacional absoluta está a caminho da extinção. (A Casa Universal da Justiça, Abril de 2002, To the World’s Religious Leaders, p. 3)
Mas como poderia o nacionalismo - o paradigma político que dominou nos últimos séculos, e a causa dos maiores conflitos da humanidade - extinguir-se? O Guardião da Fé Bahá'í, Shoghi Effendi, explicou o arco da história humana e os seus sistemas evolutivos de organização desta maneira:
A unificação de toda a humanidade é a marca distintiva da etapa que a sociedade humana actualmente se aproxima. A unidade da família, da tribo, da cidade-estado e da nação foram sucessivamente tentadas e completamente conseguidas. A unidade do mundo é o objectivo para o qual a humanidade perturbada se encaminha. A construção das nações terminou. A anarquia inerente à soberania do Estado caminha em direcção a um clímax. Um mundo em amadurecimento deve abandonar esse fetiche, reconhecer a unidade e a integridade das relações humanas e estabelecer, de uma vez por todas, o mecanismo que melhor possa concretizar este princípio fundamental da sua vida. (The World Order of Bahá'u'lláh, p. 202)
Se olharmos cuidadosamente, podemos ver a unificação do mundo - a óbvia e inevitável próxima fase do desenvolvimento humano – manifestar-se em toda a parte. Aparece na tecnologia, no comércio, na medicina, nas relações internacionais, nas viagens, na compreensão cultural, na consciência ambiental e de mil outras maneiras. Nunca anteriormente a humanidade esteve tão profundamente ligada entre si.

Esta meta-tendência, porém, não deixa todos felizes.

De facto, o globalismo ameaça o domínio continuado do nacionalismo, e os nacionalistas têm desencadeado ardentes acções de bastidores para proteger as regalias e privilégios que acumularam sob o domínio nacionalista. Um analista nacionalista britânico, Frank Davis, afirma a propósito desse confronto:
Está a emergir um choque profundo entre a elite dos progressistas globalistas ricos e os conservadores nacionalistas menos ricos. É um choque de ideais e realidades. É um choque tão profundo quanto o confronto no século passado entre o socialismo utópico e o capitalismo. Se ainda não é uma guerra, com certeza parece preparado para o ser em breve.
Percebem o preconceito aqui? Ele chama "ricos" e "elite" aos globalistas, as palavras-tipo para autocratas distantes da realidade. No entanto, a maioria das pessoas que quer ver mais unidade no mundo não se enquadra nessa definição - de facto, muitas pesquisas mundiais mostraram que a grande maioria das pessoas nos países pobres e subdesenvolvidos apoia um sistema forte de governação global. Os nacionalistas, segundo os mesmos estudos, tendem a vir dos países mais ricos, mais desenvolvidos, chamados do "primeiro mundo", e muitas vezes vêem o seu nacionalismo como uma forma de proteger o seu domínio, as suas fortunas e as suas posições de poder.

Assim, podemos concluir - com segurança - que a questão central do debate globalismo-nacionalismo gira em torno da riqueza e do poder, como tantas outras questões sobre governação. Quando as unidades tribais se organizaram pela primeira vez em cidades-estado, e quando as cidades-estados se tornaram primeiramente nações, os povos também lutaram para defender o modelo do passado. Os governantes e os poderosos na ordem política existente tentaram derrotar o novo paradigma e lutaram duramente contra a sua perda de influência; mas, por fim, perderam. O historiador Arnold Toynbee descreve assim o processo:
A última etapa de cada civilização é caracterizada pela unificação política forçada das suas partes constituintes, num todo maior.

O século XX será lembrado principalmente pelas gerações futuras, não como uma era de conflitos políticos ou invenções técnicas, mas como uma era na qual a sociedade humana ousou pensar no bem-estar de toda a raça humana como um objectivo prático.
É por isso que os ensinamentos Bahá’ís nos lembram que todo movimento progressista em direcção a um mundo mais pacífico e mais unido enfrenta um forte antagonismo. As seguintes palavras de Shoghi Effendi, escritas na década de 1930, reflectem sobre o impulso idealista da época sobre a unidade na Europa e a forma de conter os piores horrores da Primeira Guerra Mundial com a Convenção de Genebra:
A feroz oposição com que foi recebido prematuro esquema do Protocolo de Genebra; o ridículo lançado sobre a proposta de uns Estados Unidos da Europa que foi posteriormente avançada e o fracasso do esquema geral de união económica da Europa, podem parecer como contratempos nos esforços que um pequeno grupo de pessoas visionárias exercem diligentemente para fazer avançar este nobre ideal. E, no entanto, não estamos justificados ao obter novos encorajamentos quando observamos que a própria consideração dessas propostas é em si uma evidência do seu crescimento constante nas mentes e nos corações dos homens? Nas tentativas organizadas que estão a ser feitas para desacreditar um conceito tão exaltado não estamos a testemunhar a repetição, em maior escala, daqueles combates agitados e controvérsias ferozes que precederam o nascimento e ajudaram a reconstrução, das nações unificadas do Ocidente? (Shoghi Effendi, The World Order of Baha’u’llah, pags. 44-45)
Quando os ensinamentos Bahá'ís aludem, como fazem aqui, às "nações unificadas do Ocidente", o que significa isso? No próximo artigo desta série, tentaremos responder a essa pergunta examinando a formação dos Estados Unidos da América. Talvez lhe surpreenda o que as escrituras Bahá'ís têm a dizer sobre o sistema federal dos cinquenta Estados dos Estados Unidos, e como este serve de modelo para a unificação das nações.

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Texto original: Understanding the Forces that Oppose Global Unity (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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