sábado, 18 de maio de 2024

Será a Bíblia infalível e livre de erros?

Por Maya Bohnhoff.


Depois de discutirmos o que o apóstolo João quis dizer quando advertiu contra acrescentar ou retirar palavras do livro da sua profecia, o meu amigo Epignose, uma Testemunha de Jeová, afirmou que a Bíblia era infalível e estava livre de erros.

Quando lhe pedi que me mostrasse a referência bíblica, ele indicou-me umas palavras da segunda Epístola de S. Paulo a Timóteo: “Toda a Escritura, divinamente inspirada, é proveitosa para ensinar… Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2 Tm 3:16-17)

Reparei que já tinha ouvido este mesmo argumento desde a minha infância nas igrejas que frequentei e de cristãos de diversas denominações. Pedi a Epi que lê-se cuidadosamente estes versículos e pensasse as suas implicações.

Primeiro: O que significa “toda a Escritura” para S. Paulo? Antes das palavras citadas, S. Paulo diz:

Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido. E que, desde a tua meninice, conheces as sagradas escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. (2 Tm 3:14-15)

O Epi usava as palavras “toda a Escritura”, para se referir tanto ao Antigo Testamento quanto ao Evangelho, que começavam a ser redigidos quando Paulo escrevia sua carta a Timóteo. Mas Paulo está a referir-se às Sagradas Escrituras que ele e Timóteo conhecem desde a infância - os livros do Tanakh - e ele está a repetir as palavras de Cristo: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim, para terdes vida.” (Jo 5:39-40)

Cristo e Paulo dizem que a Torá fala de Cristo (especificamente, Deuteronómio 18:15), mas os sábios judeus certamente não acreditavam nisso. Na minha caminhada espiritual, achei importante entender porque é que isso não aconteceu.

Se “toda a Escritura” incluir versículos além das Escrituras Judaicas – isto é, se incluir os Evangelhos ou as Epístolas escritas pelos Apóstolos às congregações Cristãs – então temos a questão: Quem decide o que é Escritura?

Num artigo anterior, referi que há uma variedade de Bíblias diferentes com diferentes de livros – entre elas, Bíblias católicas, ortodoxas e coptas. Qual é número de livros correto?

Segundo: O que nos dizem as citações da Epístola a Timóteo sobre as Escrituras? Dizem-nos que são inspiradas por Deus, benéficas (ou lucrativas) para o ensino da Fé, e que podem tornar-nos sábios e preparados para fazer um bom trabalho.

Não diz que é infalível ou livre de erros, e não inclui livros que ainda não tinham sido escritos.

Não estou a dizer que os Evangelhos não sejam Sagradas Escrituras. Acredito com toda a minha alma que eles são Escritura. Estou a dizer que se aplicarmos o versículo tal como Paulo o apresenta, então também excluiria livros que hoje consideramos divinamente inspirados.

Os judeus acreditavam que a revelação de Deus havia terminado com o seu Livro Sagrado, e que Ele não falaria novamente até ao Dia do Juízo Final. Como Cristã, eu acreditava que tinha havido uma revelação adicional através de Jesus Cristo, mas adoptei a crença de que não haveria mais revelações divinas até ao “fim do mundo”, que os discípulos de Cristo acreditavam que aconteceria durante as suas vidas. No entanto, já se passaram mais de dois mil anos, e milhões de cristãos ainda esperam pelo fim do mundo.

Isto representa um problema porque, como sabemos, existem versículos com centenas de anos em traduções “autorizadas” de Bíblias cristãs, e que mais tarde se descobriu que não estavam nos manuscritos mais antigos, ou que tinham sido traduzidos incorretamente. Uma dessas traduções imprecisas causou uma revisão significativa até mesmo na Bíblia King James. Especificamente, os estudiosos procuraram nos textos gregos originais um excerto em Mateus 28:19-20 que tinha sido traduzido como: “Estarei convosco sempre, até ao fim do mundo”. Eles perceberam que, por alguma razão, a palavra grega “eon”, que significa “tempo”, tinha sido traduzida como “mundo”.

Isto é uma diferença significativa com consequências graves. As ideias sobre o fim do mundo moldaram a crença e a doutrina cristã durante séculos. Mas agora sabemos que Cristo não usou essa palavra, e a maioria das Bíblias foi actualizada para refletir isso. Note-se que a Bíblia Torre de Vigia das Testemunhas de Jeová usa a frase “o final do sistema de coisas”, e vê isso como o fim de uma época e o início de outra. Os Bahá’ís partilham este entendimento.

Quando era criança, perguntei várias vezes aos meus pais e aos pastores da igreja: “Porque é que Deus deixou de Se revelar para há mais de 2000 anos?” Nunca me deram uma resposta satisfatória, até que finalmente recebi a resposta de Bahá’u’lláh – que Ele continuava a revelar-Se. Em vez disso, alguns de nós pararam de ouvir porque acreditávamos ter ouvido tudo: depois com o advento de Cristo, muitos acreditavam, o mundo simplesmente acabaria.

Imagine o meu embaraço quando percebi que tinha desenvolvido uma crença na finalidade da mensagem de Cristo com base, em parte, numa tradução errada que contradizia as próprias palavras de Jesus:

Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito da Verdade, ele guiar-vos-á em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e anunciar-vos-á o que há de vir. Ele glorificar-me-á, porque há de receber do que é meu, e vo-lo anunciará. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo anunciará. (Jo 16:12-15)

Aqui Cristo predisse uma revelação adicional de Deus por outro Conselheiro – alguém que terá acesso à mesma fonte infinita de conhecimento e autoridade divinos que o próprio Jesus Cristo.

Em Abril de 1912, ao falar perante uma audiência cristã numa igreja em Washington D.C., o filho e sucessor de Bahá'u'lláh, 'Abdu'l-Bahá, reflectiu sobre aquela mesma passagem das Escrituras, que o pastor da igreja tinha usado no seu sermão dessa manhã. 'Abdu'l-Bahá disse:

Amanheceu o século em que o Espírito da Verdade pode revelar estas verdades à humanidade, proclamar essa mesma Palavra, estabelecer os verdadeiros fundamentos do Cristianismo e libertar as nações e os povos da escravidão das formas e das imitações. A causa da discórdia, do preconceito e da animosidade será removida, e a base do amor e da amizade será estabelecida. Portanto, todos vós devem esforçar-se de coração e alma para que a inimizade desapareça completamente, e que a discórdia e o ódio desapareçam completamente do meio do mundo humano. Deveis ouvir a advertência deste Espírito da Verdade. Deveis seguir o exemplo e os passos de Jesus Cristo.

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Texto original: Is the Bible Infallible and Inerrant? (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Bahá’í e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

sábado, 11 de maio de 2024

Será que existe apenas um Livro Sagrado?

Por Maya Bohnhoff.


O meu amigo online Epignose (que chamarei Epi), uma Testemunha de Jeová, descobriu rapidamente que quando fazia perguntas ou afirmações sobre as minhas crenças, eu sentia-me perfeitamente confortável em recorrer à Bíblia - especialmente às palavras de Cristo - para encontrar as respostas.

Era compreensível que ele quisesse definir a natureza e o papel das Escrituras como base da crença. Depois de ver que os Livros Sagrados de “outras” religiões incluíam o que vulgarmente chamamos Regra de Ouro e falavam de Um Espírito Supremo ou Absoluto que gerou o mundo contingente, Epi disse:

Existe apenas uma Bíblia. Não há citações de outras escrituras, e Deus avisou-nos para não adicionar ou retirar nada dela.

Epi via as Escrituras das outras religiões como sendo acrescentos ilegítimos às Escrituras reais e indicou-me uma passagem no Livro do Apocalipse que ele considerava que expressava o seu ponto de vista:

Porque eu testifico, a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, e da cidade santa, que estão escritas neste livro. (Ap 22:18-19)

Eu respondi: Se há citações de outras Escrituras, suponho que isso depende daquilo que você considera “outras”. Existem histórias sumérias no Gênesis; no Livro de Isaías, o profeta refere-se ao rei zoroastriano Ciro como “ungido de Deus” (em latim, Christos). Na verdade, em Isaías, lemos que Deus fala aos judeus, então cativos na Babilónia, através dos reis zoroastrianos. Será que isso indica que talvez Deus não considera os sumérios ou os zoroastrianos como “outros”?

Acrescentei: por três vezes no trecho que você citou, João enfatiza que está a falar sobre “a profecia deste livro” – isto é, o próprio livro do Apocalipse de São João. Assim, o seu aviso faz sentido. Sabemos que ele não estava a falar sobre “a Bíblia” porque a Bíblia tal como a conhecemos não existia naquela época.

As Escrituras que João conhecia eram as Escrituras Judaicas - o Tanakh (composto pela Torá [Lei], Nevi'im [livros de profecia] e Ketuvim [textos de sábios judeus]). O Novo Testamento não existia como livro quando João escreveu isto. Passariam 300 anos até que o Concílio de Niceia compilasse a colecção de livros que a maioria das denominações protestantes hoje chamam Bíblia. Essa lista não era igual à lista de outros Concílios, razão pela qual a maioria das Bíblias Protestantes tem 66 livros, a Bíblia Católica tem 73, a Bíblia Ortodoxa tem 81, e a Bíblia Copta tem 84.

Quem adicionou e quem retirou?

Os fariseus viam Jesus Cristo como alguém tentava “acrescentar algo às Escrituras” e rejeitavam a ideia de que ele tinha autoridade dada por Deus para fazer isso. Visto que nenhum dos Evangelhos tinha sido redigido, o livro profético de João também foi acrescentado às Escrituras tal como existiam na época.

Vêem o paradoxo?

E prossegui: sei que você concordará que os Evangelhos e as Epístolas são necessários para a compreensão do propósito de Deus para a humanidade, mas os estudiosos judeus da época apresentaram exactamente o mesmo argumento que você está a apresentar sobre acrescentar ou retirar. Consequentemente, eles rejeitaram os ensinamentos de Cristo. Você e eu concordamos plenamente que o propósito de Deus era que a mensagem de Cristo se tornasse parte do registo bíblico. Onde diferimos é na forma como alargamos esse entendimento aos milhares de anos antes e depois do ministério terreno de Cristo e aos profetas enviados a outros povos. Vejo a mensagem como sendo continuamente renovada, era após era, com novos elementos surgindo à medida que precisamos deles e somos capazes de os compreender. Este é o princípio Bahá’í da revelação progressiva e a razão pela qual os Bahá'ís acreditam num Criador e num conjunto sucessivo de mensageiros divinos, todos eles ensinando as mesmas verdades essenciais.

A própria Bíblia ilustra eloquentemente a forma como Deus se revela progressivamente de acordo com a nossa capacidade de compreensão. Como você diz, Ele enviou Noé, Abraão, Moisés e Jesus. E Jesus fala exactamente sobre este tema quando explica aos fariseus por que motivo Ele apresenta uma lei de divórcio diferente daquela que foi revelada na Torá. No Evangelho de Mateus, Cristo diz aos fariseus: “Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, permitiu-vos repudiar as vossas mulheres; mas, no princípio, não foi assim.” (Mt 19:8)

Deus não mudou a Sua atitude em relação ao divórcio; mas nós mudamos o suficiente para que pelo menos alguns de nós pudéssemos seguir o novo mandamento. Embora você e eu concordemos que Cristo tinha autoridade dada por Deus para interpretar ou mesmo mudar a lei divina, os fariseus não o fizeram. Eles viam Jesus como um falso profeta tentando acrescentar ou retirar coisas das Sagradas Escrituras.

O ponto principal para nós dois é que Cristo TINHA essa autoridade, e as Suas palavras – que eram a Palavra de Deus – foram correctamente adicionadas ao que consideramos Escritura. Os Bahá’ís acreditam que Bahá’u’lláh também tem autoridade para revelar a Palavra de Deus. Bahá’u’lláh escreveu:

Sabe tu com certeza que o Invisível não pode, de forma alguma, encarnar a Sua Essência e revelá-la aos homens. Ele está, e sempre esteve, imensamente exaltado para lá de tudo o que possa ser narrado ou compreendido. Do Seu retiro de glória, a Sua voz está sempre a proclamar: “Em verdade, Eu sou Deus; não há outro Deus além de Mim, o Omnisciente, o Sapientíssimo. Manifestei-Me aos homens e enviei Aquele que é a Alvorada dos sinais da Minha Revelação. Através dele fiz com que toda a criação testemunhasse que não há outro Deus salvo Ele, o Incomparável, o Informado de tudo, o Sapientíssimo. Ele Que está eternamente oculto dos olhos dos homens nunca poderá ser conhecido salvo através do Seu Manifestante, e o Seu Manifestante não poderá aduzir maior prova da verdade da Sua Missão do que a prova da Sua própria Pessoa. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, XX).

Como Bahá’í, acredito em Bahá’u’lláh pelas mesmas razões que acredito em Cristo – as Suas palavras, os Seus actos, o testemunho das Escrituras e a aplicação da razão e da fé.

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Texto original: Is There Only One Holy Book? (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Bahá’í e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

sábado, 4 de maio de 2024

Um Deus único: muitas lâmpadas, mas apenas uma luz

Por Maya Bohnhoff.


Quando comecei uma correspondência online com uma Testemunha de Jeová que assinava “Epignose” (rumo ao conhecimento), ele não colocou muitas perguntas, mas sim desafios aos quais queria que eu respondesse.

O nosso diálogo começou quando o meu amigo Epignose já tinha lido um pouco sobre a Fé Bahá’í nos materiais apologéticos da Sociedade Torre de Vigia, o corpo administrativo das Testemunhas de Jeová. (a apologética é um material destinado a defender um ponto de vista religioso específica.) Assim, ele sabia onde queria começar a discussão.

O primeiro desafio de Epi contra o conceito Bahá’í da unidade de Deus e da religião era o seguinte: se existem diferentes religiões, depreende-se que elas devem provir de diferentes deuses.

Ele apresentou o seu argumento da seguinte forma: "Deus não está dividido em Si próprio. Existe um Deus, uma fé. Qual seria o sentido de ter todos os tipos de religiões dizendo coisas diferentes?"

“Não podia estar mais de acordo”, foi a minha resposta.

Jesus insisti nesse assunto ao falar aos fariseus no livro de Mateus (Mt 12:22-26) do Novo Testamento. Quando Ele realizou uma cura, e os fariseus o acusaram de realizar milagres em nome de Satanás, Cristo respondeu desta forma: “E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?”

O que nós, humanos, com as nossas percepções limitadas, vemos como religiões “diferentes” não “dizem coisas diferentes” sobre os princípios fundamentais da fé. Todos ensinam as mesmas verdades essenciais sobre Deus e sobre o nosso relacionamento com Ele. O Novo Testamento também fala sobre isso no primeiro capítulo da Epístola aos Hebreus onde o autor observa que Deus “falou em tempos passados e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas...” (Hb 1:1-4)

Mas tive de perguntar: "Qual é o sentido de dar a uma criança vários professores ao longo da vida? Não poderiam aprender tudo o que precisam saber com a professora do jardim de infância?"

Em vez disso, um bom pai garante que o seu filho tenha um professor ou mentor que lhe dê a base para tudo o que irá aprender e, em seguida, continua a escolher outras escolas e professores para refinar e focar o conhecimento de acordo com a capacidade do filho. No fundo, todos os professores trabalham para o mesmo objectivo escolar – eles não estão a competir entre si.

O mesmo se passa com os fundadores das grandes religiões mundiais. Moisés predisse a vinda de Cristo, Daniel predisse a vinda de Cristo e de Bahá'u'lláh, Cristo falou de outro Conselheiro (Auxiliador ou Advogado) que viria depois dele, e tanto Muhammad como Bahá'u'lláh testemunharam a verdade de Cristo e glorificaram-No.

Isto também se aplica a outras revelações. Krishna afirmou que os Mensageiros Divinos aparecem no mundo sempre que “o vício e a injustiça subissem ao trono”, e Buda confirmou que Ele próprio não foi o primeiro desses Professores, nem o último.

As várias religiões podem parecer estar em competição devido à forma como nós, humanos, elevamos a doutrina acima do simples ensinamento de amar a Deus e uns aos outros, que constitui a base de toda a fé revelada.

Moisés e Cristo afirmaram que o Maior Mandamento é duplo: amar a Deus e amar o próximo tal como amamos a nós próprios. Cristo disse-nos que dessas leis gémeas “depende toda a Lei e os Profetas” (Mt 22:40). O apóstolo Paulo refina este ponto na epístola aos Romanos, dizendo: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama os outros cumpriu a lei.” (Rm 13:8)

Bahá’u’lláh revelou que esta Lei dupla é totalidade do propósito da revelação de Deus:

O Propósito do Deus Uno e Verdadeiro - exaltada seja a Sua Glória - em revelar-Se aos homens, é pôr à mostra aquelas joias que jazem ocultas na mina dos seus verdadeiros e mais íntimos seres. Que às diversas comunhões da terra e aos múltiplos sistemas de crença nunca seja permitido fomentar sentimentos de animosidade entre os homens é, neste Dia, a Essência da Fé de Deus e da Sua Religião. Estes princípios e leis, estes sistemas firmemente estabelecidos e poderosos, proveem de uma única Origem e são os raios de uma única Luz. O facto de que diferirem uns dos outros deve ser atribuído aos diversos requisitos das épocas em que foram promulgados. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, CXXXII)

Veja-se como o Criador educou o povo hebreu na narrativa bíblica através de uma sucessão de reveladores importantes, incluindo Abraão, José, Moisés e Cristo; e profetas menores como Isaías e Ezequiel. Até Jesus diz que tem muitas coisas para dizer aos Seus discípulos que eles não podem suportar, mas que devem esperar para aprender com “outro Consolador” (Jo 14:16) (Paráclito é o termo grego). Paulo, que aceitou a sua fé após a ascensão de Cristo, proclamou isto, dizendo que via “num espelho indistinto” (1Co 13:12) e sabia “em parte”, mas esperava um tempo em que a revelação fosse completa.

Moisés e Jesus eram rivais? Os profetas judeus como Ezequiel e Isaías dividiram a fé? Claro que não. Nem os Mensageiros como Krishna ou Muhammad. Eles não dividem a mensagem de Deus; pelo contrário, amplificam-na e difundem-na, tal como fizeram os profetas referidos na Bíblia.

Consideremos estas palavras conhecidas de Cristo: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” (Mt 7:12)

Os reveladores da palavra de Deus falam a uma só voz:
  • Esta é o resumo do dever: não fazer nada aos outros que, se fosse feito a ti, te causaria dor. (Krishna, Bhagavad Gita)
  • O que é odioso para ti, não o faças aos teus semelhantes. Essa é toda a Lei; tudo o resto é comentário. (Hillel, Talmude)
  • Uma situação que não é agradável ou prazenteira para mim, como poderia infligir isso a outra pessoa? (Buda, Samyutta Nikaya)
  • Nenhum de vós é crente até que deseje para o seu irmão aquilo que deseja para si próprio. (Muhammad, Hadith)
  • Ó filho do homem! Se seus olhos estiverem voltados para a misericórdia, abandona as coisas que te beneficiam e agarra-te àquilo que beneficiará a humanidade. E se os teus olhos estão voltados para a justiça, escolhe para o teu próximo aquilo que escolhes para ti. (Bahá’u’lláh, Epístola ao Filho do Lobo)
No Evangelho de Mateus, Cristo diz que devemos julgar se um profeta é de Deus pelos seus frutos. Os seus ensinamentos são sólidos? O resultado de seguir esses ensinamentos é espiritualmente benéfico para a humanidade? Portanto, se usarmos os critérios de Cristo quando olhamos para os ensinamentos destes profetas, podemos julgar se eles ensinam os mesmos princípios divinos que Cristo ensinou, e se estão a fazer a obra de Deus, ou a promover os seus próprios objectivos.

Krishna ensinou que Deus é EU SOU, a existência absoluta. O mesmo aconteceu com Buda. Krishna também ensinou que Deus é alcançado por um amor eterno e por todas as criaturas. Buda ensinou que “O ódio não termina com o ódio; o ódio termina com amor. Este é um mandamento eterno.” Ambos ensinaram os mesmos princípios que Cristo ensinou e transformaram inúmeras vidas. Isto também se aplica a Bahá’u’lláh, que escreveu:

Ó Amigo! No jardim do teu coração, nada plantes salvo a rosa do amor e não te desprendas do rouxinol do afecto e do desejo.

Disse ao meu novo amigo que acredito que Cristo pode ser levado à letra: uma árvore má não pode produzir bons frutos espirituais. Deus não está dividido. Pode haver muitas lâmpadas, mas há apenas uma luz.

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Texto original: There is One God: Many Lamps, but One Light (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Bahá’í e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Aristóteles e as Escrituras Bahá’ís

Aristóteles foi várias vezes referido em termos elogiosos por Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá.

Além disso, em vários textos das Escrituras Bahá’ís podemos encontrar terminologia aristotélica e ensinamentos que são réplica de alguns ensinamentos aristotélicos.

Quais são as implicações disto?

No entanto, Aristóteles tornou-se desactualizado no que toca à ciência. E actualmente, a filosofia ocidental baseia-se em Kant e Hegel – apesar de haver algumas tentativas para recuperar Aristóteles.

De que forma é que isto representa um desafio para os Bahá’ís?

Este vídeo legendado em português de um curso do prof Mikhail Sergeev aborda estas questões de forma clara e objectiva.

sábado, 27 de abril de 2024

O Universo teve um início?

Por David Langness.


Hoje, muitos cientistas aceitam que o universo começou com um “Big Bang” – uma expansão massiva de matéria e energia que ocorreu quando uma singularidade hiper-densa e sobreaquecida se tornou o universo conhecido.

Esse modelo cosmológico resulta do rastreamento da expansão contínua do Universo no tempo, há 13,8 mil milhões de anos, onde toda a matéria e energia podem ter emergido de um estado inicial de densidade e temperatura extremas, onde as leis da física tal como as conhecemos hoje não se aplicavam.

Como é que a ciência vê um passado tão distante? Bem, actualmente a teoria do Big Bang ainda é apenas uma teoria, mas oferece aos cientistas uma explicação abrangente e adequada para toda uma série de observações e medições envolvendo luz, calor, radiação cósmica de fundo e a Lei de Hubble, a observação de que as galáxias mais distantes se estão a afastar umas das outras numa velocidade mais elevada.

A teoria do Big Bang faz sentido quando se considera um facto importante: sabemos hoje que a distância entre as galáxias está a aumentar, o que deve significar que as galáxias estavam mais próximas umas das outras no passado.

Mas nem todos os cientistas acreditam na teoria do Big Bang.

Primeiro, o modelo cosmológico do Big Bang não explica o motivo da existência da energia, do tempo e do espaço – em vez disso, apenas descreve o nascimento do nosso universo actual a partir de um estado inicial ultradenso e de alta temperatura, para lá do qual os cientistas não conseguem “ver”. Esse estado, acreditava o físico Stephen Hawking, pode ter vindo de algo a que ele chamou “proposta sem fronteiras”, em que o tempo e o espaço são finitos, mas não têm quaisquer fronteiras ou pontos de partida ou de chegada. (Quer um quebra-cabeças difícil de resolver? Tente visualizá-lo…)

James Peebles
Em segundo lugar, e talvez mais importante, alguns cientistas conceituados que estudam o começo do universo não gostam muito da teoria do Big Bang, porque apenas podemos inferir a sua existência, em vez de prová-la. Jim Peebles, professor emérito de ciências na Universidade de Princeton e co-vencedor do Prémio Nobel de Física de 2019, disse recentemente que não acredita necessariamente na teoria do Big Bang, devido à falta de evidências concretas de apoio: “É muito lamentável que se pense no começo, quando, na verdade, não temos uma boa teoria sobre algo como sendo o começo.

Isto sugere, tal como dizem os ensinamentos Bahá’ís, que o universo pode não ter tido um início:

Sabe que é uma das questões mais obscuras da divindade a de que o mundo da existência - isto é, esse infinito universo - não teve início…

...a não-existência absoluta não tem capacidade para alcançar a existência. Se o universo fosse um puro nada, a existência nunca teria acontecido. Assim, tal como a Essência da Unidade, ou o Ser divino, é eterno e perpétuo - isto é, não tem início nem fim - sucede que o mundo da existência, este universo ilimitado, da mesma forma, também não tem início… (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, pag. 207-208)

O mundo da criação não teve princípio e não terá fim, porque é a arena onde os atributos e qualidades do espírito se manifestam. Podemos limitar Deus e o Seu poder? Da mesma forma não podemos limitar as Suas criações e atributos. Assim como a realidade da divindade é ilimitada, também a Sua graça e generosidade são ilimitadas. (‘Abdu’l-Bahá, Divine Philosophy, p. 169)

Alguns podem ser tentados a comparar estas afirmações dos ensinamentos Bahá'ís com outra teoria científica chamada “modelo do estado estacionário”, que também pressupõe a existência eterna do universo. Mas um grande conjunto de evidências, incluindo a existência de radiação cósmica de fundo omnipresente, até agora desacreditou em grande parte essa teoria. Os ensinamentos Bahá’ís, em vez de aceitarem a teoria do Big Bang ou o modelo do estado estacionário, dizem simplesmente que o Criador não tem princípio nem fim e, portanto, a criação também não tem nenhum dos dois:

Louvado seja Deus, o Possuidor de tudo, o Rei de glória incomparável, um louvor que está incomensuravelmente acima da compreensão de todas as coisas criadas e é exaltado acima do alcance das mentes dos homens. (…) Quão indescritivelmente sublimes são os sinais do Seu poder consumado, do qual um único sinal, por muito insignificante que seja, deve transcender a compreensão de tudo o que, desde o início que não teve início, foi trazido à existência, ou será criado no futuro até ao fim que não tem fim…

As maravilhas da Sua generosidade nunca podem cessar, e o fluxo da Sua graça misericordiosa nunca pode ser interrompido. O processo da Sua criação não teve princípio e não pode ter fim. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, XXVI)

Mas porque deveríamos preocupar-nos com tudo isso? Qual a importância de uma antiga questão científica e teológica sobre o passado distante, e a origem ou não origem do universo? Tal como salientam os ensinamentos Bahá’ís, estas questões científicas esclarecem um conceito extremamente importante: se o próprio universo não tem fim, então nós também não:

A alma não é uma combinação de elementos, não é composta por muitos átomos; é uma substância indivisível e, portanto, eterna. Está inteiramente fora da ordem da criação física; é imortal!

A filosofia científica demonstrou que um elemento simples (“simples” significa “não composto”) é indestrutível, eterno. A alma, não sendo uma composição de elementos, é, em carácter, um simples elemento e, portanto, não pode deixar de existir. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 90)

Se reflectirmos sobre esta relação entre o universo ilimitado e o nosso espírito humano ilimitado, poderemos ver e começar a compreender o que Bahá’u’lláh e todos os profetas antes dele proclamaram:

Quanto à tua pergunta sobre a origem da criação. Sabe com certeza que a criação de Deus existe desde a eternidade e continuará a existir para sempre. O seu princípio não teve princípio e o seu fim não conhece fim. O Seu nome, o Criador, pressupõe uma criação, assim como o Seu título, o Senhor dos Homens, deve envolver a existência de um servo. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, LXXVIII)

Sabe decerto que a alma após a sua separação do corpo, continuará a progredir até atingir a presença de Deus, num estado e condição que nem a revolução dos séculos e das eras, nem as mudanças e casualidades no mundo, podem alterar. Perdurará enquanto perdurar o Reino de Deus, a Sua soberania, o Seu domínio e poder. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, LXXXI)

Tal como a criação, a alma humana individual existe eternamente. O reconhecimento desse facto, por parte de cada pessoa, cria a realização mais transformadora que podemos alcançar. A Fé Bahá’í lembra-nos a todos que cada um de nós tem uma alma eterna:

O conceito de aniquilação é um factor de degradação humana, uma causa de aviltamento e baixeza humana, uma fonte de medo e abjecção humana. Conduziu à dispersão e ao enfraquecimento do pensamento humano, ao passo que a realização da existência e da continuidade tem elevado o homem à sublimidade dos ideais, ao estabelecimento das bases do progresso humano e ao estimulo do desenvolvimento das virtudes celestiais; portanto, cabe ao homem abandonar os pensamentos de inexistência e morte, que são absolutamente imaginários, e ver-se sempre vivo, eterno no propósito divino da sua criação. Ele deve afastar-se das ideias que degradam a alma humana, para que, dia a dia e hora a hora, ele possa evoluir cada vez mais para a percepção espiritual da continuidade da realidade humana. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 90)

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Texto original: Does the Universe Have a Beginning? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Os Bahá'ís, o 25 de Abril e a Democracia

Como é que os Bahá’ís receberam o 25 de Abril?
Como tem sido a relação com o estado português desde o 25 de Abril?
O que dizem os ensinamentos Bahá’ís sobre a Democracia?

sábado, 20 de abril de 2024

Qual é o meu propósito?

Por David Langness.


Durante o Iluminismo, os filósofos e pensadores começaram a antecipar que os avanços científicos um dia inspirariam a nossa filosofia moral – e dariam à humanidade um melhor sentido de propósito moral.

Mais tarde, em 1975, o famoso biólogo Edward O. Wilson concluiu no seu livro Sociobiology, The New Synthesis que uma parte significativa do estudo da vida humana foi influenciada pelos desenvolvimentos na biologia evolutiva – e deveria agora incluir a moralidade e, portanto, o propósito de vida: “…chegou a hora de a ética ser retirada temporariamente das mãos dos filósofos e biologizada.” – pág. 562. Wilson também afirmou que a religião está a “arrastar-nos para baixo” e “deve ser eliminada em prol do progresso humano”.

Alguns cientistas concordam, outros discordaram. Os cientistas materialistas consideram que, no grande esquema das coisas, os humanos não têm um propósito maior do que um falcão ou um arbusto. Eles não vêem nenhuma escada de criação com os humanos no degrau mais alto – e, portanto, não conseguem imaginar nenhum propósito na vida. Eles presumem que a raça humana existe devido a um feliz acidente evolutivo, e que Deus não tem qualquer interferência nesse acidente.

Mas hoje o mundo ainda não atingiu os desejos dos filósofos iluministas como Diderot e Voltaire, ou os objectivos dos cientistas contemporâneos como Wilson – que a ciência, em vez da fé, deveria definir e promover a moral e o propósito humanos. Na verdade, muitas pessoas reconhecem que, embora a ciência tenha ajudado a humanidade a evoluir em alguns aspectos, também ajudou a criar forças destrutivas no nosso ambiente global, como salientam os ensinamentos Bahá’ís:

Independentemente de quão longe o mundo material progrida, ele não poderá instaurar a felicidade da humanidade. Apenas quando as civilizações materiais e espirituais estiverem ligadas e coordenadas, a felicidade será assegurada. Então a civilização material não contribuirá com as suas energias para as forças do mal na destruição da unicidade da humanidade, pois na civilização material o bem e o mal avançam juntos e ao mesmo ritmo. Por exemplo, consideremos o progresso material do homem na última década. Escolas e faculdades, hospitais, instituições filantrópicas, academias científicas e templos de filosofia foram fundados, mas a par com estas evidências de desenvolvimento, a invenção e produção de meios e armas para a destruição humana aumentaram de forma proporcional. Nos primeiros dias, a arma da guerra era a espada; agora é a espingarda de repetição. Entre os antigos, os homens lutavam com dardos e punhais; agora eles empregam obuses e bombas. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 109.)

Assim, a maioria de nós não recorre à ciência, mas sim à filosofia e à religião quando procura a verdade absoluta e o nosso propósito moral na vida:

A ciência não pergunta “Porquê?” porque só pode responder “O quê?” e “Como?"

A ciência é muito, muito boa a responder à questão “O quê?”, como “O que são as cores do céu?” E a ciência é muito boa em responder à pergunta “Como?”, como: “Como é que essas cores chegam aqui?” mas a ciência é incapaz de responder “Porque é que existe um céu? Porque é que temos cor? Podemos descrever a gravidade e a termodinâmica e como a atmosfera se formou, mas não podemos dizer por que motivo tudo isso existe…

A ciência só avança descobrindo coisas que não são verdadeiras – por falsificação.

A indústria, os negócios e a maioria das outras profissões não se preocupam com o que é verdadeiro ou falso. Preocupam-se com o que funciona.

A ciência centra-se em descobrir falsidades. Religião é ter fé na crença de que algumas coisas são verdadeiras. (Thomas P Seager, PhD, The Polymath Project)

Tudo isso significa que a eterna pergunta “Qual é o meu propósito?” só pode encontrar a resposta no reino da sua alma.

Consideremos o seguinte: quando se escolhe a matéria mais nos interessa na escola, o curso na faculdade, o ofício, a profissão ou o parceiro com o qual partilhar a vida, essa escolha também é feita num nível muito mais profundo do que apenas racional ou científico. Em vez disso, você examina a sua alma:

Quando desejais reflectir ou considerar um assunto, consultais algo dentro de vós. Dizeis: devo fazê-lo ou não devo fazê-lo? É melhor fazer esta viagem ou desistir dela? Quem consultais? Quem está dentro de vós decidindo esta questão? Certamente existe um poder distinto, um eu inteligente. Se não fosse distinto do vosso eu, não o consultaríeis. É maior que a faculdade do pensamento. É o vosso espírito que vos ensina, que aconselha e decide os assuntos. Quem interrogais? Quem responde? Não há dúvida de que é o espírito, e que não existe nele mudança ou transformação, pois não é uma composição de elementos, e tudo o que não é composto de elementos é eterno. Mudança e transformação são peculiaridades da composição. Não há mudança e transformação no espírito. (…) O espírito é sempre o mesmo; nenhuma mudança ou transformação lhe podemos perceber, e porque não há mudança ou transformação, ele é eterno e permanente. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 243)

Só cada um de nós pode descobrir o seu propósito e agir de acordo com ele. Só cada um de nós você pode dar sentido e propósito à sua vida. Esse propósito interior profundo reside na sua alma, e apenas reconhecendo e consultando a sua alma você poderá encontrá-lo:

... o propósito do Manifestante de Deus e do alvorecer das luzes ilimitadas do Invisível é educar as almas dos homens, e refinar o carácter de cada homem vivo – para que indivíduos abençoados, que se libertaram da escuridão do mundo animal, surjam com aquelas qualidades que são os adornos da realidade do homem. O propósito é que os humanos se transformem no povo do Céu, e aqueles que andam nas trevas venham para a luz, e aqueles que estão excluídos se juntem ao círculo interno do Reino, e aqueles que são como nada se tornem íntimos do Glória eterna. É que os destituídos obtenham a sua parte do mar ilimitado, e os ignorantes bebam até se fartar da fonte viva do conhecimento; que aqueles sedentos de sangue abandonem a sua selvageria, e aqueles que têm garras afiadas se tornem gentis e tolerantes, e aqueles que amam a guerra procurarem, em vez disso, a verdadeira conciliação; é que os brutais, com as suas mãos afiadas como navalhas, desfrutem dos benefícios de uma paz duradoura; que os imundos aprendam que existe um reino de pureza, e que os contaminados encontrem o caminho para os rios da santidade. (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, #2)

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Texto original: What Is My Purpose? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.